Por ocasião do centenário do cultuado poeta gaúcho Mário Quintana, em 2006, a Confraria dos Bibliófilos do Brasil convidou Milan Dusek para ilustrar os poemas do livro “ Mario Quintana: Cem Poemas “ Produzido com folhas soltas no sistema “canoa” edição limitada e numerada de 000 a 350.

livro-de-mario-quintana
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          Por ocasião do centenário do cultuado poeta gaúcho Mário Quintana, em 2006, a Confraria dos Bibliófilos do Brasil convidou Milan Dusek para ilustrar os poemas do livro “Mario Quintana: Cem Poemas “ Produzido com folhas soltas no sistema “canoa” edição limitada e numerada de 000 a 350.

o-autorretrato-de-mario-quintana

O Auto-Retrato

No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…

e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

Mário Quintana

O Auto-Retrato

o-autorretrato-de-mario-quintana

No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…

e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!

Mário Quintana

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
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Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce, _  uma estrela,
Quando se morre, _ uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio…
E a Luz da estrela no fim!”

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce, _  uma estrela,
Quando se morre, _ uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio…
E a Luz da estrela no fim!”

CANÇÃO DE BARCO E DE OLVIDO

Não quero a negra desnuda.
Não quero o baú do morto.
Eu quero o mapa das nuvens
E um barco bem vagaroso.

 Que eu vou passando e passando,
Como em busca de outros ares…
Sempre de barco passando,
Cantando os meus quintanares…

No mesmo instante olvidando
Tudo o de que te lembrares.

cancao-de-barco-e-de-olvido
cancao-de-barco-e-de-olvido

Não quero a negra desnuda.
Não quero o baú do morto.
Eu quero o mapa das nuvens
E um barco bem vagaroso.

 Que eu vou passando e passando,
Como em busca de outros ares…
Sempre de barco passando,
Cantando os meus quintanares…

No mesmo instante olvidando
Tudo o de que te lembrares.

CANÇÃO DO SUICIDA
cancao-do-suicida-de mario-quintana
cancao-do-suicida-de mario-quintana

De repente, não sei como
Me atirei no contracéu.
À tona d’água ficou
Ficou dançando o chapéu.

De repente, não sei como
Me atirei no contracéu.
À tona d’água ficou
Ficou dançando o chapéu.

A CANÇÃO DA VIDA

Como eu sou bela,
Amor!
Entra em mim, como em uma tela
De Renoir

Enquanto é primavera,
Enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
Não vás ficar
Aí…
Como um salso chorando
Na beira do rio…
(Como a vida é bela! Como a vida é louca!)

a-cancao-da-vida-de-mario-quintana
a-cancao-da-vida-de-mario-quintana

Como eu sou bela,
Amor!
Entra em mim, como em uma tela
De Renoir

Enquanto é primavera,
Enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
Não vás ficar
Aí…
Como um salso chorando
Na beira do rio…
(Como a vida é bela! Como a vida é louca!)

AULA INAUGURAL
aula-inaugural-mario-quintana
aula-inaugural-mario-quintana

É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis como na guerra do Paraguai…
Mas eram bem falantes
E todos os seus gestos eram ritmados como num balé
Pela cadência dos metros homéricos.
Fora do ritmo, só há danação.
A poesia é dança e a dança é alegria.
Dança, pois, teu desespero, dança
Tua miséria, teus arrebatamentos,
Teus júbilos
E,
Mesmo que temas imensamente a Deus,
Dança, como Davi diante da Arca da Aliança;
Mesmo que temas imensamente a morte
Dança diante da tua cova.
Tece coroas de rimas…
Enquanto o poema não termina
A rima é como uma esperança
Que eternamente se renova.

É verdade que na Ilíada não havia tantos heróis como na guerra do Paraguai…
Mas eram bem falantes
E todos os seus gestos eram ritmados como num balé
Pela cadência dos metros homéricos.
Fora do ritmo, só há danação.
A poesia é dança e a dança é alegria.
Dança, pois, teu desespero, dança
Tua miséria, teus arrebatamentos,
Teus júbilos
E,
Mesmo que temas imensamente a Deus,
Dança, como Davi diante da Arca da Aliança;
Mesmo que temas imensamente a morte
Dança diante da tua cova.
Tece coroas de rimas…
Enquanto o poema não termina
A rima é como uma esperança
Que eternamente se renova.

O DIA SEGUINTE AO DO AMOR

Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus entrelaçados,

Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados…
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!…

o-dia-seguinte-ao-amor-mario-quintana
o-dia-seguinte-ao-amor-mario-quintana

Quando a luz estender a roupa nos telhados
E for todo o horizonte um frêmito de palmas
E junto ao leito fundo nossas duas almas
Chamarem nossos corpos nus entrelaçados,

Seremos, na manhã, duas máscaras calmas
E felizes, de grandes olhos claros e rasgados…
Depois, volvendo ao sol as nossas quatro palmas,
Encheremos o céu de vôos encantados!…

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